Brasileiros na entrevista com a imigração americana

Histórias de imigrantes

Brasileiros na entrevista com a imigração americana

Pela primeira vez fui convidada para ser a tradutora em uma entrevista de imigração. Lembro que a minha entrevista, ocorrida em fevereiro de 2008, havia sido mamão com açúcar. Eu e marido ficamos nem cinco minutos. Se comparada com as experiências de algumas amigas brasileiras, a minha havia sido uma das mais fáceis da história. Minha amiga de hoje, porém, estava preparada para uma batalha. O marido havia entrado ilegalmente no país pelo México.

Como preparação para a entrevista, o advogado dela passou um questionário de 170 perguntas que o oficial de imigração poderia ou não perguntar, na dúvida, era melhor ter todas na ponta da língua. No fim de semana anterior fizemos até um simuladão para deixar o marido ‘afiado’. Meu marido representou o oficial de imigração (muito bem por sinal) e eu a tradutora. Foi uma experiência engraçada regada a muito pão de queijo.

A semana passou e o bendito dia da entrevista, sexta-feira 25 de abril, chegou. No caso de um de nós perder a hora, ninguém dormiu. Como dizia aquela piada que estava rolando pelo Facebook durante a semana – ‘Fui dormir tão tarde e acordei tão cedo que quase cruzei comigo mesmo no corredor’.

Pontualmente às 7 da matina là estàvamos nós em frente ao prédio do DHS (Department of Homeland Security, em Oakland Park, Flórida). Em caso de dor de barriga ou vômito, também não comemos. Ao entrar dei de cara com uma réplica da Estàtua da Liberdade, mesmo sabendo que ela não é santa, fiz meu pedido. Não custa tentar, o que vale é a fé.

Confesso que estava sim, um pouco nervosa, vai que eu traduzisse algo errado e isso dificultasse as coisas para os dois. Mas pensei positivo e aguardamos o advogado deles chegar. Aliás, prepare o bolso, ficar ilegal sai muito caro. Para levar um advogado em entrevista de imigração pode custar $1000 (um mil dólares) por cerca de uma hora de trabalho. Pelo menos agora eu já sei que profissão seguir na minha próxima encarnação.

O advogado fez questão de me dar algumas instruções, o que me apavorou completamente. “Já vi casos de oficiais que não têm paciência com tradutor, e entrevistas podem durar até três horas”, disse ele, eu gelei geral depois dessa.

O big deal (grande problema) dos dois era que ele, o marido, havia entrado pelo México, portanto não tinha carimbo no passaporte, a tal I-94. Veja bem, mesmo que cada caso seja um caso na hora da entrevista com a imigração, percebi nesses anos de américa presenciando casos de amigos e ouvindo as histórias que chegam até o jornal brasileiro onde trabalho, que: se você entrou legalmente nos EUA e aindo dentro do prazo do seu visto, seja lá qual for, se casar com um cidadão americano a entrevista tem grandes chances de ser mamão com açúcar; se você entrou com visto e ficou além do prazo permitido e casou com cidadão americano, não necessariamente vai ter problemas; se você entrou ilegalmente (via México ou de barquinho pelas Bahamas) e resolver oficializar sua união com um cidadão americano VAI TER PROBLEMAS.

O medo é de ser deportado já dalí da salinha da imigração durante sua entrevista.

O caso da minha amiga é que o marido além de entrar pelo México foi pego em uma das paradas aleatórias, sem explicação, do nada, out of the blue, que o ICE (polícia de imigração) faz a qualquer hora dia e lugar, e preso por não ter documentos que comprovassem que ele estava legalmente no país.

A sorte dos dois foi que: ao ser preso, ele (o marido) se recusou a assinar qualquer documento. Esse é um caso muito comum em prisões de imigrantes nos Estados Unidos. Ao ser preso, o imigrante ilegal invariavelmente vai ser pressionado a assinar sua própria deportação. Como diz aquele velho ditado brasileiro .. “escreveu, não leu, o …..”. Ao assinar, geralmente o imigrante é solto, aquele não sabe inglês acha que está livre da polícia e sai todo faceiro, mal sabe que o juiz estipulou uma data para o imigrante se apresentar, o que geralmente o imigrante nem prestou atenção. O que acontece depois é bem típico – ele não comparece à corte, e na próxima parada do ICE ele descobre que existe uma ordem de deportação aguardando por ele. O imigrante é preso, levado para o presídio de imigrantes mais próximo e toda terça-feira (pelo menos na Flórida é assim), lá pelas 3 da manhã o ônibus estaciona do pátio do presídio e leva um grupo para o aeroporto. Quando o imigrante pisca o olho ele está de volta ao Brasil sem um centavo no bolso e com a roupa do corpo, geralmente aquele uniforme laranja do presídio.

Já ouvi milhares de histórias como essa. Quem me conta é a minha amiga Esther, do Centro de Apoio ao Imigrante (IAC).

Mas bem, voltando ao caso da minha amiga de hoje cedo. O marido nos contou que quando foi levado pelos policiais, ficou horas presos e foi muito pressionado pelos agentes a assinar o bendito do papel. “Eles me disseram em tom ameaçador ‘você vai brigar?’. Eu disse que ia”, contou ele que felizmente não assinou.

Durante um ano, o brasileiro foi monitorado pelo ICE. Eles fizeram visitas à casa dele, ligaram, pediram para que ele fosse até o escritório deles, uma via crucis. Finalmente em novembro de 2013, depois de gastar muito com advogado, a ordem de deportação foi suspensa e os dois puderem partir para a segunda batalha, provar que o casamento era verdadeiro.

Well, com as quase mil fotos que a minha amiga preparou não havia dúvidas de o casório era verdadeiro. O oficial perguntou algumas coisas durante a entrevista, mas não foi aquele interrogatório do FBI, CIA ou KGB, que estávamos esperando. Tivemos a sorte de sermos recebidos por um oficial muito simpático, sorridente e bom de papo. Ele quis saber como eles se conheceram, quais os documentos que ela tinha para provar a união conjugal, pegou algumas fotos para incluir no processo e, para minha sorte, só fez pergunta para o marido. “No que você trabalha?”. Putz, justamente essa pergunta, pensei comigo. Como se diz granito, mármore e azulejo em inglês? “Ele trabalha na construção civil”, respondi resumindo tudo, nessas horas é bom ser jornalista.

Quando o oficial de imigração disse… “eu vou aprovar seu I-130 e vocês podem dar entrada no próximo formulário”, eu até respirei.

A saga dos dois, lembrando que só é uma saga porque ele não entrou legalmente no país, segue agora para a próxima etapa. Pedir um perdão provando que ea minha amiga vai ser extramemente penalisada se ele não for legalizado e, tentar não ser obrigado a voltar para o Brasil para isso.

Pelas leis dos Estados Unidos, o pedido de perdão deve ser feito no país de origem, o problema é que sair do país é fácil conseguir voltar é outra história. Por isso, os ilegais perdem perdão a Deus e continuam por aqui.

Porém no início de 2013, o presidente Barack Obama, fez uma leve mudança nessa lei. Agora o pedido de perdão para familiares de cidadãos americanos pode ser feito nos EUA e depois de concedido (carimbado, registrado e rotulado por aqui) o imigrante volta para seu país de origem, vai até o consulado americano e pede o visto para entrar pela porta da frente na terra do Tio Sam.

Logicamente que o povo continua com medo. Já ouvi advogado dizendo que conseguiu aprovação em vários casos, que o imigrante fica uns 20 dias no Brasil e volta são e salvo, já o advogado da minha amiga alertou que o DHS está recusando os pedidos aos milhares.

Em todo caso, os dois ainda não decidiram ao certo se vão pedir o perdão ou continuar do jeito que está e esperar alguma mudança na lei. Em resumo, a saga continua: eles provaram que o casamento é verdadeiro, ele felizmente está livre da deportação, mas continua sem carteira de motorista, sem autorização de trabalho e sem poder viajar ao Brasil.

Em resumo, a saga continua …. em breve cenas dos próximos capítulos.

 
USAHelp4U
**informação certa já é metade do caminho**
botao menor interno